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Câncer de mama e o consumo de leite de vaca e derivados, passando por diversas patologias



O câncer de mama é o mais comum tipo de câncer em mulheres atualmente, além de contribuir com uma importante mortalidade dentre os tipos de câncer. Diversos fatores estão envolvidos na gênese e na progressão do câncer de mama e a obesidade é um fator de risco conhecido, especialmente após a menopausa (CUNHA et al., 2013).

O consumo de leite e derivados já foi associado com diversas alterações metabólicas, como hiperinsulinemia e resistência insulínica, que é alteração metabólica encontrada como base para patologias como diabetes melito tipo 2, obesidade abdominal e síndrome do ovário policístico (OSTMAN et al., 2001; HOPPE et al, 2005).

O leite bovino é um alimento consumido pela espécie humana, desde o nascimento até o fim da vida. É um complexo bioativo que promove o crescimento e desenvolvimento do filhote mamífero. Porém, num ponto de vista biológico, considerando os animais, nenhum mamífero, exceto o humano, tem o hábito de ingerir leite após a fase de amamentação, principalmente se tratando de leite de outra espécie (CORDAIN et al., 2005; EATON, 2006).

O leite de vaca possui diversas frações proteicas alergênicas já identificadas, sendo que as reações de alergia alimentar clássica são mediadas por IgE, porém a mais prevalente é alergia tardia, mediada por IgG, podendo desencadear sintomas de 2 a 3 horas após o contato ou mesmo dias após o consumo (reação tardia), sendo de difícil diagnóstico. A reação de alergia tardia ao leite de vaca costuma estar associada à otite, dermatite, rinite, sinusite, bronquite asmática, amigdalite, aumento na formação de muco, gastrite, enterocolite, esofagite, refluxo, obstipação intestinal, enurese, enxaqueca, fadigas inexplicáveis, artrite reumatoide, falta de concentração, hiperatividade, dislexia, ansiedade, depressão, enxaqueca, sintomas associados à doença celíaca, obesidade e aumento da resistência à insulina (MELNIK, 2009a; RATNER et al., 1985).

Quando consumidas regularmente, as proteínas do leite de vaca podem provocar o aumento de insulina (pós-prandial), alterando a relação entre hormônio de crescimento (GH) e fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1). O aumento constante dos níveis sanguíneos de IGF-1 está envolvido com a regulação do crescimento fetal, maturação das células-T no timo, crescimento, aparecimento de acne, aterosclerose, diabetes melito, obesidade, câncer e doenças neurodegenerativas. Nas doenças neurodegenerativas, a ação do IGF-1 se dá intensificando o processo de acúmulo de proteínas no cérebro. O aglomerado proteico é determinante no surgimento e evolução de doenças como Alzheimer e Parkinson (MELNIK, 2009b).

Os leites e derivados quando consumidos regularmente podem apresentar efeitos adversos para a saúde humana, como o aumento da produção endógena de insulina, GH e IGF-1. Níveis séricos elevados desses hormônios podem ocasionar a resistência à insulina (RI), que está associada com a síndrome metabólica, adiposidade visceral e pode evoluir para diabetes melito tipo 2. A hiperinsulinemia pode piorar a RI, através da hiperestimulação do gene da insulina sensível ao transporte de glicose-4 (GLUT-4), além de induzir a secreção hepática de IGF-1. O GH também induz a RI (BRAMNERT et al., 2003; MELNIK, 2009c).

Apesar de possuírem baixo índice glicêmico, leite e derivados possuem altos índices insulinêmicos. A fração de gordura presente no leite, assim como a presença de lactose colaboram para o efeito insulinotrópico deste alimento. Porém, têm-se sugerido que fatores presentes na fração proteica do leite são responsáveis pelo efeito insulinotrópico. O leite desnatado foi identificado como sendo mais potente secretagogo de insulina em pacientes com diabetes melito tipo 2. Tanto as proteínas do soro, como a caseína contêm proteínas e peptídeos específicos que possuem efeito estimulante de crescimento. (HOLT et al., 1997; HOYT et al., 2005; OSTMAN et al., 2001).

Quando se trata de alimentação de recém-nascidos (RN), o consumo de fórmulas infantis à base de leite de vaca é mais comum. O consumo destas fórmulas aumenta a RI em RN. O leite humano induz parcialmente a RI para promover uma função de crescimento fisiológico no RN. A superestimulação do sinal do leite bovino faz com que a RI aumente muito no RN. Ao sobrepor o sistema de sinalização bovina, a faixa de RI do RN será muito mais elevada. Recém-nascidos com uma semana de vida apresentam níveis de insulina aumentados quando alimentados com leite de vaca, quando comparados aos que receberam leite humano. O consumo de leite de vaca durante a gravidez e durante a infância pode resultar numa programação inadequada do eixo insulina/IGF-1 durante a vida fetal e pós-natal e nos primeiros meses de vida (MELNIK, 2009c).

A RI provoca aumento dos níveis séricos de insulina e de IGF-1, que são potentes mitogênicos, estimulantes de crescimento, importantes mediadores da diferenciação e proliferação celular e inibidores de apoptose. Essas funções estão relacionadas à fisiopatologia de desordens metabólicas, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas e câncer (MELNIK, 2009c).

É importante destacar que no leite de vaca há IGF-1 ativo e que vacas tratadas com GH, para melhor produção de leite, apresentam níveis aumentados de IGF-1 no leite (MELNIK, 2009c). Altos níveis de IGF-1 ainda são detectáveis mesmo após a pasteurização e homogeinização do leite. O IGF-1 bovino do leite pode sobreviver à digestão e permanecer bioativo no sangue de consumidores de leite; além do que o IGF-1 humano e bovino possuem a mesma sequência de aminoácidos, portanto o IGF-1 bovino pode se ligar ao IGF-1R (receptor) humano (HOPPE et al., 2005).

O IGF-1 é essencial para o crescimento embrionário e pós-natal normais e desempenha importante função no sistema imune, linfopoiese, miogênese e mitogênese, crescimento ósseo, entre outras funções fisiológicas. O GH e o IGF-1 têm importante papel no crescimento e homeostase do tecido. A sinalização aumentada e desregulada através do receptor de insulina tem sido associada com o desenvolvimento de câncer (DENLEY et al., 2005).

O IGF-1 atua como um mitógeno de forte indução do crescimento, proliferação e diferenciação celular e inibe a apoptose. O IGF-1 exerce sua ação mitógena aumentando a síntese de DNA e estimulando a expressão de ciclina D1, que acelera a progressão do ciclo celular de G1 para a fase S. A inibição da apoptose se dá pelo aumento da expressão de proteínas envolvidas na iniciação da via apoptótica, que é então bloqueada. A combinação destes dois efeitos tem profundo impacto sobre o crescimento do tumor. Em adição ao efeito descrito do IGF-1, temos a contribuição de moléculas que estão envolvidas no desenvolvimento e progressão do câncer, como hormônios esteroides sexuais e outros fatores de crescimento (YU et al., 2000).

O consumo de leite de vaca pode provocar o aumento da concentração do hormônio IGF-1, que por sua vez estimula o crescimento e diferenciação celular, que estão associados ao surgimento de tumores, pois as células estimuladas podem ser células malignas. O consumo de leite bovino também aumenta os níveis de estrogênio, que é responsável por uma maior propensão ao câncer de mama (MELNIK, 2009b).

O IGF-1 é descrito com importante agente mitógeno para uma ampla variedade de linhas celulares de cânceres, inclusive o câncer de mama. Em células de câncer de mama, o estrogênio aumenta o efeito mitógeno do IGF-1 e estimulam a produção do seu receptor (IGF-1R). A interação entre estrogênio e IGF-1 é recíproca: o IGF-1 aumenta a expressão de receptores de estrogênio nas células de câncer de mama. As células cancerosas com forte tendência à metástase têm maior expressão de IGF-1R (YU et al., 2000).

Em alguns estudos clínicos, foram comparados níveis de IGF-1 e IGF-1R entre indivíduos com e sem câncer. Foram observados níveis maiores de IGF-1 dentre mulheres com câncer de mama, quando comparadas com mulheres sem a doença. No entanto tem sido encontrada relação entre os níveis de IGF-1 e o prognóstico do câncer ou estágio da doença (BARNI et al., 1994; PEYRAT et al., 1993; VADGAMA et al., 1999).

Desta forma, a influência do consumo de leite e derivados sobre a saúde, no que se refere ao desenvolvimento de doenças não transmissíveis, pode aumentar e agravar fatores que elevam o risco de desenvolvimento de câncer de mama.



Referências


  • BARNI, S. et al. Serum levels of insulin-like growth factor-I in operable breast cancer in relation to the main prognostic variables and their perioperative changes in relation to those of prolactin. Tumori; 80:212–215, 1994.

  • BRAMNERT, M. et al. Growth hormone replacement therapy induces insulin resistance by activating the glucose–fatty acid cycle. J Clin Endocrinol Metab; 88:1455–1463, 2003.

  • CORDAIN, L. et al. Origins and evolution of the Western diet: health implications for the 21st century. Am J Clin Nutr; 81(2):341-354, 2005.

  • CUNHA, P.A. et al. Interaction between obesity-related genes, FTO and MC4R, associated to an increase of brest cancer risk. Mol Biol Rep; 40:6657-6664, 2013.

  • DENLEY, A. et al. Molecular interactions of the IGF system. Cytokine Growth Factor Ver; 16:421–439, 2005.

  • EATON, S.B. The ancestral human diet: what was it and should it be a paradigm for contemporary nutrition? Proc Nutr Soc; 65(1):1-6, 2006.

  • HOLT, S.H.; MILLER, J.C.; PETOCZ, P. An insulin index of foods: the insulin demand generated by 1000-kJ portions of common foods. Am J Clin Nutr; 66:1264–1276, 1997.

  • HOPPE, C. et al. High intakes of milk, but not meat increase s-insulin and insulin resistance in 8-year-old boys. Eur J Clin Nutr; 59(3):393-398, 2005.

  • HOYT, G.; HICKEY, M.S.; CORDAIN, L. Dissociation of the glycaemic and insulinaemic responses to whole and skimmed milk. Br J Nutr; 93:175–177, 2005.

  • MELNIK, B. Milk consumption: aggravating factor of acne and promoter of chronic diseases of Western societies. JDDG; 7:1-10, 2009a.

  • MELNIK, B.C. Milk – The promoter of chronic Western diseases. Medical Hypotheses; 72:631-639, 2009b.

  • MELNIK, B.C. Permanent impairment of insulin resistence from pregnancy to adulthood: The primary basic risk factor of chronic Western diseases. Medical Hypotheses; doi:10.1016/j.mehy.2009.04.047, 2009c.


  • OSTMAN, E.M. et al. Inconsistency between glycemic and insulinemic responses to regular and fermented milk products. Am J Clin Nutr; 74:96-100, 2001.

  • PEYRAT, J.P. et al. Bonneterre J, Hecquet B, Vennin P, Louchez MM, Fournier C, et al. Plasma insulin-like growth factor-1 (IGF-1) concentrations in human breast cancer. Eur J Cancer 1993;29A:492–497.

  • RATNER, D.; ESHEL, E.; VIGDER, K. Juvenile rheumatoid arthritis and milk allergy. J R Soc Med; 78:410-413, 1985.

  • VADGAMA, J.V. et al. Plasma insulin-like growth factor-I and serum IGF-binding protein 3 can be associated with the progression of breast cancer, and predict the risk of recurrence and the probability of survival in African-Amercian and Hispanic women. Oncology; 57:330–340, 1999.

YU, H.; ROHAN, T. Role of the Insulin-Like Growth Factor Family in Cancer Development and Progression. Journal of the National Cancer Institute; 92(18):1472-1489, 2000.

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